GUIA DE LEITURA - MARVEL MAX, DA PANINI, PARTE 2

E lá vamos nós...
ESPECTRO TOTAL 😏
Roteiro de Sara "Samm" Barnes. Arte de Travel Foreman e Greg Tochini. Arte-final de John Dell, Drew Geraci, Nelson Decastro, Jonathan Glapion, Mark Morales e Matt Banning. 
Marvel Max 19 - 24



Joe Ledger, o soldado perfeito, foi recrutado para ser o "piloto de testes" do estranho cristal retirado da nave que trouxe Hipérion pra Terra. No entanto, no primeiro treino a pedra se fundiu ao seu corpo e o colocou em coma. Alheio ao mundo real, Ledger tem sua vida investigada pelo artefato, fazendo-o revisitar suas origens e ter vislumbres de um futuro sinistro.


O roteiro, com a supervisão de Straczynski, tenta dar uma dinâmica diferente à "história de origem", inserindo o Dr. Norton, um médico que cuida do militar comatoso. Ele entrevista pessoas ligadas ao passado do soldado em busca de um "gatilho" que possa fazê-lo despertar. Assim, temos o passado do personagem principal mostrado segundo pontos de vista diferentes. Além disso, temos uma trama paralela, onde agentes inimigos tentam sequestrar o corpo adormecido de Joe do hospital. 


O roteiro não consegue fugir do clichê do "sujeito desajustado que vira um militar fodão". O lance do apego paternal do médico pelo paciente também é bem forçado. A arte é irregular, pela profusão de arte-finalistas e a troca de Travel Foreman pelo brasileiro Greg Tochini, que possui um traço bem diferente daquele. Mesmo assim, podemos dizer que este spin-off de Poder Supremo cumpre a sua função, mais por dar pistas do que seria o futuro da série principal do que por trazer o passado de um personagem que, se antes carecia de profundidade, passou a mendigar originalidade. 


VIÚVA NEGRA - DIREITO À VIDA 😒
Roteiro de Richard K. Morgan. Arte de Bill Sienkiewicz e de Goran Parlov com Bill Sienkiewicz
Marvel Max 19 - 24


Natasha Romanov curte sua aposentadoria no Arizona, quando é atacada por um homem que prefere morrer - de forma lenta e dolorosa - a falar. Querendo descobrir o que se encontra por trás do ataque, ela se une ao ex-agente da Shield Phil Dexter. Durante suas investigações, percebem que outras antigas infiltradas da KGB estão sendo assassinadas pelo mundo afora. O desenrolar dos acontecimentos acaba trazendo para o raio de atenção da antiga Viúva Negra a (aparentemente) extinta Sala Vermelha (incluindo desconfortáveis descobertas sobre o - acreditem! - PROGRAMA Viúva Negra) e uma das grandes multinacionais de cosméticos dos EUA. 


Richard Morgan é um escritor de ficção científica e fantasia que se aventurou nos quadrinhos com a Viúva Negra e fez um trabalho que deixou a desejar. Sua Natasha é um personagem que confunde com seu discurso que conflita com suas ações e a sua história pregressa. Ela parece afogada em um mar de ressentimento com o mundo, principalmente os homens. Mas seu passado tem uma série de parcerias - e amizades - bem sucedidas com agentes e até super-heróis de ambos os sexos. Ela questiona a violência, mas não vê problema em aleijar um adversário já subjugado porque, ora, ela prometeu isso a ele. Também culpa o avanço capitalista pela decadência moral russa, esquecendo que ela mesma desertou do mundo socialista (até mandam uma justificativa pra isso, mas ó...). 


Tudo demais é veneno, e o discurso politicamente correto cansa por ser usado ad nauseam, com bobagens como Natasha comparar seus antigos braceletes a algemas ou dizer que um dos motivos pelos quais não gosta de armas de fogo é porque elas "são mais do que simbolicamente suspeitas".  Outro ponto que torna anêmico o roteiro é que praticamente todo o elenco de apoio é raso, fraco e clichê, quando não desnecessário. E Morgan não foge da armadilha: se lhe falta talento para realmente criar uma heroína superior aos que a cercam, então diminua estes a um patamar absurdo para que ela ganhe deles mesmo assim. E aí temos coisas como o ex-agente da Shield que está fugindo de meio mundo (e sabe disso) e simplesmente abre a porta do quarto onde está escondido sem primeiro ver pelo olho mágico quem está do outro lado da porta, ou o chefe de uma equipe de segurança de ponta que, ciente da chegada de uma das maiores assassinas do Universo Marvel, não apenas DÁ FOLGA PRA TODA A SUA EQUIPE como, deliberadamente, elimina uma vantagem estúpida que o roteiro deu a ele (algo tão esdrúxulo que eu acho que só está lá pra tentar justificar a deserção da Viúva pros EUA). 

O desnecessário filme Viúva Negra (Black Widow, 2021) utilizou alguns elementos tirados desta história. Sim, pra mim isso depõe contra ambos!

A dupla Sienkiewicz-Parlov lembra grandes momentos como Elektra Assassina e Justiceiro, mas não consegue fazer decolar um roteiro que também derrapa feio nas cenas que deveriam ter ação, mas se resolvem de maneira apressada ou estúpida.

 
Foi republicada na "coleção vermelha" da Salvat (Os Heróis Mais Poderosos da Marvel 6, de 2015). Não tão fácil nem tão barata de encontrar hoje em dia. 


DOUTOR ESTRANHO 😐
Roteiro de J. Michael Straczynski e Sara "Samm" Barnes. Arte de Brandon Peterson.
Marvel Max 25 - 30

Stephen Strange é um prodígio da faculdade de medicina que ignora suas boas intenções iniciais, manifestadas durante um estágio no Tibete, e se torna um cirurgião plástico que atende apenas pessoas extremamente ricas. Porém, um acidente de esqui lhe tira a sensibilidade das mãos, fazendo com que rapidamente dilapide sua pequena fortuna procurando uma cura. Esta busca o levará a um antigo paciente tibetano, chamado Wong, que se tornou uma espécie de curandeiro especializado em mãos, mas que serve a uma estranha figura com quem Strange travara um rápido conhecimento no passado, o Ancião. Este contato levará Stephen a ver aquilo que poucas pessoas conseguem enxergar: as infinitas realidades que coexistem, separadas por tênues barreiras que só um poderoso guardião consegue manter íntegras, principalmente para impedir a invasão oriunda da dimensão dominada por Dormammu. O Ancião é este guardião. Mas ele está muito cansado e busca o seu sucessor. 



Straczynski e Barnes, que trabalharam na mini do Dr. Espectro, voltam aqui pra recontar a origem do Doutor Estranho, mantendo as premissas básicas: médico talentoso e arrogante, que é privado de sua habilidade motora que o torna tão especial e, inconformado, parte em busca de qualquer coisa que possa curá-lo. Há elementos interessantes, como Stephen não ser um homem realmente mal, mas ser vítima de uma influência negativa constante. Também gostei do "sacrifício" que lhe é imposto ao se tornar o novo guardião das barreiras entre as dimensões.  Eu ando cansado do jeito idiota como os super-heróis são retratados, como se colocar uma fantasia e combater o mal fosse apenas uma forma de se tornar uma subcelebridade, sem preços pessoais a pagar.



Mas algumas coisas foram mal executadas. Há muito foco na busca pela cura e na necessidade de convencer Stephen do que se esconde por trás do véu e pouco na sua fase acadêmica e profissional e no seu aprendizado junto ao AnciãoO acidente é simplesmente risível. Sério, imaginar que uma pessoa saia à noite para esquiar sozinho, segurando uma lanterna? E a sequela mais séria de um tombo assim é detonar as mãos, pois as utilizou para tentar se defender do impacto? Força a amizade, né?


O surgimento e, principalmente, o confronto com Dormammu foram o pior. Este é anticlimático, esquecível e se resolve num gesto desesperado do Ancião. O resultado é tão "mais ou menos" que o filme Doutor Estranho (Doctor Strange, 2016) é muito melhor sucedido como história de origem, mesmo substituindo a família de Strange por um descartável romance com a médica Christine (Rachel McAdams). 



Na arte, o trabalho de Brandon Peterson não é ruim, mas tem alguns poréns, principalmente o uso de fundos fotográficos (acho preguiça) e o abrupto envelhecimento do Stephen Strange. Um excelente aluno deve ter entrado na faculdade de medicina por volta dos dezenove, no máximo vinte anos de idade. Ficou lá por oito anos. O acidente foi três anos depois e ele passou cerca de um procurando a cura. Ou seja, na pior das hipóteses o Strange que encontra o Ancião em Nova Iorque deve ter por volta de trinta e dois anos, mas parece muito mais velho. E já aparentava ser um homem de pelo menos quarenta ANTES do acidente. 


SHANNA - TEMPORADA DE CAÇA 😞
Roteiro e arte de Frank Cho
Marvel Max 25 - 30



Uma equipe de militares há quase quatro anos se encontra perdida numa região florestal misteriosa. Eles encontram uma antiga base nazista, onde eram desenvolvidas pesquisas de engenharia genética. Lá, despertam uma mulher especial, que tem habilidades, resistência e força muito além de qualquer outro ser humano que já viram. A estranha é incorporada ao grupo e, em dado momento, tem que empreender uma jornada, durante a perigosa estação de migração dos dinossauros, de volta à estação de pesquisas onde "nasceu" para buscar a cura para uma praga que assola o acampamento dos soldados.  



Frank Cho é conhecido por duas coisas: sua tira Liberty Meadows e por desenhar mulheres inacreditavelmente bonitas e impossivelmente "encorpadas". Acho uma injustiça: fica claro para qualquer um que ler esta história que ele também ADORA DESENHAR DINOSSAUROS!" Não vi nenhum motivo para ele produzir esta reimaginação da origem da Shanna (a personagem desta história ganhou o nome dos caras do acampamento por lembrar muito uma "personagem de quadrinhos") além de desenhar em algumas páginas a personagem principal nas mais sexy posições possíveis (sempre com esmerado destaque para os seios e o bumbum), noutras dinossauros (principalmente velociraptors) e, na maioria delas, AS DUAS COISAS, ou seja, Shanna lutando com dinossauros, principalmente velociraptors. 



Originalmente, a ideia era que a personagem principal estivesse nua durante boa parte da série, mas que isso foi vetado, em busca de um público mais amplo, saindo do selo MAX original. Sendo assim, Cho arte-finalizou o que já estava desenhado, colocando um arremedo de roupa nela (putz, a justificativa para ela preferir um biquíni feito com cipó e restos de lona do que roupas de verdade é... pqp!).  Boatos contam que Cho fez uma versão para adultos, que aí receberia o selo MAX e uma tiragem limitada, de luxo, mas que Joe Quesada engavetou o projeto. O burburinho era alto e acho que por isso chamou muita atenção na época, ganhando DUAS capas na nossa Marvel Max! Por outro lado, chegaram a lançar uma "edição especial" do mix (a de número 28) com mais páginas só para colocar duas histórias desta série, demonstrando que o material não estava agradando muito e que queriam se livrar logo dele.   


No fim, vale se você gostar de dinossauros e de desenhistas que não se incomodam nem um pouco de sacrificar coisas bobas como "narrativa" para garantir que suas personagens apareçam em pose de pin up  em quase todos os quadros. Vale também se você gostar de colorização digital (Dave Stewart manda muito bem, principalmente se você lembrar que foi publicado em 2005). Também vale se você odiar coisas como "argumento", "roteiro", "boa escrita"...  Uma história com elementos tipo "pelotão perdido", "nazistas", "engenharia genética" e, mais uma vez, "dinossauros assassinos" é infantil, descerebrado e uma definição clichê do próprio termo clichê. 


HERÓIS SEM PODERES😏
Roteiro de Matt Cherniss e Peter Johnson. Arte de Michael Gaydos.
Marvel Max 29 - 34



Um psiquiatra cai em um inexplicado coma e sonha com um mundo cheio de pessoas com habilidades e identidades especiais. Desperto, ele percebe que as pessoas que encontra parecem contrapartes das criaturas fantasiadas dos seus sonhos. Com o tempo, tece relações diretas com três deles, em especial: Peter Parker, um estudante perseguido pelo empresário Norman Osborn, que quer descobrir em que projeto secreto as Indústrias Stark, onde Peter estagia, estão trabalhando; Matt Murdock, um advogado cego que chama a atenção do chefão do crime de Nova York, Wilson Fisk, ao defender um homem chamado Frank Castle, injustamente acusado do assassinato de Leland Owlsley; e, por fim, Logan, um sujeito desmemoriado que descobre ser um agente do governo controlado mentalmente. 

Não é uma premissa desinteressante. Como qualquer outro fã de quadrinhos de super-herói, adoro realidades alternativas e mundos paralelos. O barato aqui está justamente em ver as versões comuns de personagens diversos do Universo Marvel. Outra coisa bacana é ver versões "sem poderes" de situações que ocorreram em histórias antigas. Uma variante disto são as capas, que recriam outras (como a do número 2, que refaz a capa de Origin 2), mas com estes personagens humanizados. Posteriormente, a série Zumbis Marvel faria a mesma coisa. 


Mas o excesso de tramas atrapalha. Todas parecem interessantes (a do Logan é mais sem graça), mas nenhuma consegue a profundidade merecida. Pra piorar, os roteiristas não conseguem manter certos mistérios (dá pra matar quem é realmente o psiquiatra antes de chegar na quarta parte). E a necessidade de ficar inserindo as imagens "marvelizadas" dos personagens que vão aparecendo, alguns por apenas um quadro, tira um pouco da graça do leitor tentar descobrir quem eles são. 


Me aborrece que "vilões" continuem vilões poderosos, de certa forma, enquanto os heróis parecem sempre deslocados ou ferrados. Não entendi porque Wilson Fisk e Norman Osborn (e, vá lá, Tony Stark) continuam sendo sujeitos milionários de qualquer forma, enquanto o Reed Richards e a Sue Storm são... médicos. 


O artista foi bem escolhido. Gaydos tinha feito um trabalho parecido em Alias, ao mostrar o mundo dos super-heróis "do chão". Aqui, os supers estão no chão, com alguns passando despercebidos no meio da multidão. 


HIPÉRION - ANJOS CAÍDOS 😊
Roteiro de J. Michael Straczynski. Arte de Dan Jurgens com Klaus Janson e Staz Johnson.
Marvel Max 31 - 35


Inconformado com a deserção de Hipérion, o governo americano monta uma segunda equipe de indivíduos com poderes especiais - Dr. Emil Burbank, o homem mais inteligente (e sem modéstia) do mundo, Forma, invulnerável, irremovível e burro, Arcanna Jones, uma física que descobriu que pode acessar diferentes possibilidades quânticas e teme o que pode alcançar com isso, e Al Gaines, basicamente um reator nuclear humano - para forçá-lo a retornar. Durante o encontro, os poderes combinados de Hipérion, Gaines e Arcanna os levam ao que parece ser uma realidade alternativa, em que o primeiro dominou os EUA, apoiado por uma série de outros "super-heróis", sendo combatido por alguns resistentes, entre eles o Falcão Noturno



Diferente das outras minis publicadas como spin-offs de Poder Supremo, esta poderia fazer parte da série principal sem problema algum, pois sequer tem o foco no personagem título, parecendo mais preocupada em elevar o número de personagens e atiçar a mente do leitor sobre questões que a série principal já vinha levantando, preparando para a chegada do novo título, Esquadrão Supremo.

Duas coisas merecem destaque. Em primeiro lugar, Emil Burbank deve ser um dos personagens mais desprezíveis apresentados em qualquer história, seja quadrinhos, literatura, cinema, teatro... Em suma, é uma criatura deplorável, que acredita que sua inteligência superior o coloca acima de qualquer limitação moral. A outra é o final, que surpreende e lança uma sombra sobre a série Esquadrão Supremo. Pena que Straczynski abandonou o projeto antes da conclusão. 



A arte-final marcante e pesada de Klaus Janson termina não casando muito bem com o traço de Dan Jurgens, mas ficou longe de ser um desastre. É preciso aceitar que o mundo não é perfeito e que Janson não pode sempre trabalhar com Frank Miller e John Romita Jr....

FALCÃO NOTURNO 😌
Roteiro de Daniel Way. Arte de Steve Dillon.
Marvel Max 31 - 36




A vida de Kyle Richmond, o Falcão Noturno, fica muito mais difícil em Chicago quando Steven Binst, um assassino em massa, desperta do estado catatônico em que se encontrava, foge da custódia policial disfarçado de palhaço e, abraçando esta nova personalidade, inicia uma onda de homicídios nunca antes vista na história da cidade. 


Falcão Noturno seria uma versão do Batman para o universo de Poder Supremo. É um milionário, sem poderes especiais, que usa intelecto, preparo físico exemplar e uma série de equipamentos de primeira linha para levar terror ao submundo, motivado pelo assassinato de seus pais, ocorrido diante de seus olhos infantis. 



Mas há diferenças gritantes. Mais do que interessado em combater o crime, ele está em combater racistas (não necessariamente o racismo). Seu foco está em atacar pessoas que perseguem, aviltam, agridem ou matam pessoas de cor, ainda que esses sejam outros negros, dando nenhuma importância a ocorrências que só prejudicam brancos.  Além disso, estamos diante de alguém que não vê problema nenhum em assassinato, mesmo quando tal medida é escandalosamente desproporcional ao crime cometido.  Neste aspecto, ele lembra muito mais o Justiceiro do que o Cruzado de Gotham.


Daniel Way é um daqueles roteiristas que acerta na premissa e no desenvolvimento, mas costuma deixar a coisa desandar no arremate final. É o caso. O foco do escritor parece mais ser "olha como o Batman poderia resolver o problema com o Coringa fácil, fácil!". Sim, qualquer um com um pouco de hq no sangue sabe que não matar é a escolha difícil que o Morcego faz todas as noites, mas vamos deixar isso pra um post adequado. Há momentos confusos na história, em que parece que pulamos alguma explicação necessária para que as ideias encaixassem. Também há desperdício de páginas apenas para mostrar Binst matando mais e mais. Páginas que farão falta no fim, com um confronto final apressado, previsível e... frustrante.



Todos os elogios ao trabalho sempre competente de Steve Dillon (RIP). É inegável que, mais uma vez, parece que estamos vendo variações dos mesmos personagens que vimos em Preacher, Hellblazer, Justiceiro, etc. Mas poucos artistas são tão talhados para desenhar violência extrema sem usar um visual sujo como era Dillon, além de mais uma vez ter dado show na questão de expressões faciais. 


VIÚVA NEGRA - AS COISAS QUE DIZEM SOBRE ELA 😒
Roteiro de Richard K. Morgan. Arte de Sean Phillips com Bill Sienkiewicz
Marvel Max 35 - 40


Depois dos eventos do Vol. 01 (mostrados acima), Natasha foge dos EUA e vai para Cuba, onde reencontra Yelena, que lhe pede que resolva um problema com seus fornecedores de medicamentos da Flórida. Durante a ação, ela encontra uma pista sobre a Gynacon, o que a leva a descobrir o paradeiro de Sally Anne, a garota que ela resgatou de dois valentões na primeira parte e pela qual ela, inexplicavelmente, se sente responsável. Sem refletir, parte em busca da garota, entrando em conflito com a máfia cubana em Miami. Enquanto isso, Kestrel, da Corporação North, recruta Martin Ferris, um agente que ficou maluco de vez depois de ser drogado pela Viúva, para persegui-la. Mesmo com tudo contra, a russa ainda pode contar com a ajuda, além de Yelena, de Nick Fury e de Matt Murdock.


A suspensão da descrença é conditio sine qua non para curtir histórias de espionagem e de super-heróis. Mas tudo tem limite. Richard Morgan, definitivamente, não era do ramo (não sei hoje, por isso o "era"). Ele tenta fazer de Natasha uma super-agente, mas a história não passa de uma sequência de coincidências e incidentes que se completam, uma coisa levando a outra. Ela foge de Miami pra Cuba, onde encontra Yelena, que lhe pede pra resolver um problema em Miami (isso, de onde ela acabara de fugir por estar sendo procurada por assassinato), onde ela esbarra em uma pista sobre a Gynacon, que, coincidência das coincidências, a leva a uma pessoa que teve um contato rápido e impessoal com Sally (a adolescente por quem a Viúva se sente, inexplicavelmente, responsável), que lhe coloca em rota de colisão com a máfia cubana e a faz entrar no raio de alcance da North, para satisfazer a sede de vingança de dois agentes da mesma, da qual ela só escapa por conta da interferência (sempre aos 45 do segundo tempo) de um terceiro. Da parte dela, não há nenhum trabalho investigativo, nenhuma dedução brilhante ou, pelo menos, um planejamento digno de alguém que seria uma das maiores agentes do mundo. Ela simplesmente vai esbarrando nas coisas. É tanta coincidência, tanto deus ex machina, tanto "de repente" que se começa a achar que o roteirista está tirando uma com a cara do leitor, enquanto aproveita boa parte do tempo para tecer críticas ao regime cubano, ao capitalismo, ao governo americano, à indústria de cosméticos, às medidas anti-terror pós 11 de setembro, à ditadura militar chilena... Acho que a palavra "política" é a que é mais utilizada durante o texto. 


O conhecimento de Morgan do Universo Marvel é sofrível (o que talvez seja o motivo para ele insistir em utilizar os personagens ruins que criou na primeira saga). Nick Fury preso? Murdock nunca parecendo estar utilizando suas habilidades especiais, principalmente seu radar? Yelena uma empresária e modelo de sucesso em... Cuba? E Natasha... a amargura em pessoa. Em nenhum momento abre a boca ou age sem parecer estar com raiva de alguma coisa. Até seus pensamentos são sempre agressivos. Ela não lembra uma agente de alto nível, mas uma força da natureza, derrubando tudo em seu caminho para alcançar o que quer. 


A arte é de uma tristeza... Gosto de Sean Phillips e de Bill "Elektra" Sienkiewicz, mas o trabalho conjunto aqui deixou muito a desejar. Parece que Bill apenas rabiscou sobre esboços apressados de Sean. O estilo de colorização também não me agradou. Aparentemente, o roteiro não empolgou ninguém...

FURY - O PACIFICADOR 😉
Roteiro de Garth Ennis. Arte de Darick Robertson com Jimmy Palmiotti.
Marvel Max 36 - 41.

O sargento Nicholas Fury conhece os horrores da guerra na África, onde seu pelotão é massacrado, muito por conta da gritante diferença entre o treinamento e o verdadeiro combate, que mostra o despreparo da maioria dos militares norte-americanos. Quando é resgatado por alguns soldados da SAS ingleses, Fury resolve seguir o conselho do general Stephen Barkhorn, o alemão que poupou sua vida: aprender a apreciar o combate. Curiosamente, no futuro Fury e alguns destes ingleses são designados para a missão de eliminar o próprio Barkhorn, considerado o único oficial alemão com carisma e conhecimento militar para estender a guerra por mais tempo. Mas há alemães que acreditam que, por outro lado, o general está empenhado em assassinar Hitler para pedir a paz com os ocidentais e, assim, salvar a pátria germânica da vingança russa.



Dá sempre prazer ler as histórias de guerra do Ennis por conta de seu conhecimento do assunto, tanto na parte histórica como na de táticas e equipamentos. Mas é óbvio que, por outro lado, temos uma boa dose de fantasia. Comparando, se Ennis escrevesse sobre a Batalha das Termópilas, provavelmente seus espartanos seriam tão poderosos quanto os mostrados por Frank Miller em 300, mas usariam a armadura correta (e completa).



Mas me incomodou que o Fury seja praticamente uma versão mais bem humorada do Justiceiro do próprio Ennis: um sujeito que gosta tanto de guerra que resolve dar um jeito de continuar nela pra sempre. A origem do tapa-olho é meia-boca (embora não apareça nenhum gato alienígena por aqui - VTNC, UCM!). E o fato de termos uma boa parte das cenas à noite ou em locais escuros prejudica a apreciação da arte de Robertson, por conta da qualidade inferior da impressão no papel pisa brite.


Darick Robertson é daqueles desenhistas que o currículo dispensa qualquer tipo de avaliação: Liga da Justiça, Wolverine, Justiceiro, The Boys e - principalmente - Transmetropolitan. Mesmo uma bobagem como Happy, escrito por Grant Morrison para a Image, vale ser conferido por conta do trabalho do traço. Uma outra história do Fury, também pro selo MAX, com a dupla Ennis - Robertson saiu nos números 08-12 da antiga mensal Paladinos Marvel, em 2002. 

As histórias citadas aqui, da dupla Garth Ennis e Darick Robertson, podem ser vistas no primeiro volume do encadernado de luxo da Panini Fury por Garth Ennis, lançado em 2023.


ESQUADRÃO SUPREMO 😠
Roteiro de J. Michael Straczynski. Arte de Gary Frank com Jonathan Sibal e Juan Barranco com Vicente Cifuentes
Marvel Max 37 - 43 


Depois que o governo norte-americano consegue trazer Mark Mílton, o Hipérion, de volta ao seu - aparente - controle, ele se torna o líder de uma equipe de personagens com habilidades extraordinárias (e uma variedade de problemas mentais e/ou comportamentais). Este grupo - que conta com quase todos os indivíduos especiais mostrados em Poder Supremo e na mini do Hipérion, além de alguns novos - não foi formado para combater o crime, mas sim tudo aquilo que os EUA considere ameaça terrorista, ainda que apenas em potência. Isso faz com que nações que se sentem futuros alvos resolvam procurar outros sujeitos com super-poderes para que possam fazer frente à equipe norte-americana.


Frustração. É só isso que podemos tirar daqui. A história é ruim? Não. Ok, já tem todos aqueles clichês de "governo malvadão" que já deram no saco e fazem a gente lembrar MUITO de Os Supremos do Millar.  Na verdade, cada vez mais interessante é o lance do que realmente está por trás da chegada de Hipérion no nosso planeta e quais os planos que o alienígena de fato tem para a humanidade.



Mas o problema é que Straczynski e Gary Frank foram embora da Marvel e pararam a série no número 7, que saiu no fim de 2006 nos EUA. E nunca mais foi retomada. Sim, a equipe até reapareceu, mas a trama foi completamente abandonada e alguns personagens foram visual e conceitualmente reformulados. Pra piorar, tudo se encerra antes de um baita conflito, deixando um gosto amargo no leitor. 



Bom, vamos ficar por aqui, já que alcançamos praticamente a metade da publicação. Voltamos depois pra finalizar, provavelmente em mais dois posts. E não deixe de dar uma olhada na primeira parte.
































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